É bom ficar atento às notícias e aos detalhes, porque nem sempre tudo é dito de maneira clara. Termina na próxima quinta-feira (5) o prazo para que os partidos políticos e coligações apresentem, nos cartórios eleitorais, o requerimento de registro de candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador. Para todos os cargos, DEVERÃO ser obedecidos os critérios estabelecidos pela chamada Lei da Ficha Limpa (LC 135/2010), que prevê os casos em que os candidatos ficam submetidos a inelegibilidade. (mais…)
Autor: Marcelo
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Agência jovem na Rio+20
Adolescentes e jovens de 11 Estados brasileiros, do Distrito Federal e de mais 18 países da América Latina, Europa, África e América do Norte se preparam para a maior agência de notícias presente na Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável) e na Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental, que acontecem na cidade do Rio de Janeiro entre os dias 15 e 23 de junho. (mais…)
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Catraca Livre é o melhor blog do mundo
Criado em julho de 2009 por estudantes universitários sob a coordenação do jornalista Gilberto Dimenstein, o site Catraca Livre foi escolhido como o melhor blog do mundo em português, em premiação promovida pela Deustche Welle, emissora de TV pública da Alemanha. O resultado foi divulgado nessa quarta-feira, 2. A votação, que tem a proposta de valorizar projetos com foco na cidadania, foi realizada em duas etapas: júri e, posteriormente, participação popular.
Sobre o prêmio vencido pelo site que está prestes a completar três anos de existência, o Comunique-se conversa com o idealizador do Catraca Livre, Gilberto Dimenstein. O jornalista conta como o projeto teve início, como funciona o trabalho da equipe e qual a principal proposta. A paixão pela comunicação comunitária e o “olhar diferente” que o profissional busca levar aos cidadãos por meio do jornalismo também fazem parte da entrevista. Confira a íntegra:
O site do Catraca Livre informa que a página foi desenvolvida por estudantes universitários. De qual forma você ingressou no projeto? Você participou do início?
Eu já vinha trabalhando o conceito de bairro-escola e esses estudantes da Metodista, Mackenzie, USP, FAAP e PUC tiveram a ideia de desenvolver o site com a proposta de mostrar o que a cidade de São Paulo tem de interessante e que muita gente não conhecia. Apoiei o projeto desde o começo. Andando pelo centro, eu via que as pessoas falavam que não iam a teatros e cinemas porque era tudo muito caro. Queria mostrar que há muita atividade interessante.
Qual o diferencial do Catraca Livre em comparação com os demais sites?
Acredito que o fato de desde o começo ter o objetivo de ser um espaço sócioeducativo. Investimos em dicas culturais, um site de serviços. Trabalhamos com um olhar diferente em relação à comunicação. Vemos a cidade como grande incubadora de serviços, apesar de termos notícias de outros lugares além de São Paulo. Contamos com a parceria de Harvard e Media Lab. E, além de tudo isso, o Catraca passou a ser sinônimo de eventos gratuitos; tornou-se comum ouvir alguém falar: “vamos, é um evento ‘catraca livre’ “.
Os estudantes que deram origem ao Catraca Livre continuam trabalhando no site?
Boa parte deles, sim. Teve gente que saiu com o tempo, até para trabalhar em outro projeto, outro site, o que é absolutamente normal. Mas, da equipe inicial, tem muita gente que continua no Catraca Livre. E por aqui colocamos em prática o modo de cooperativa. A turma que ajudou a criar o site e continuou no projeto se tornou sócia do Catraca.
Em algum momento, desde a criação em junho de 2009, o Catraca Livre correu risco de acabar?
Sim. E posso até dizer que esse risco é contínuo. Somos um site que tem fins lucrativos e para se manter depende muito dos patrocínios. O que nos ajuda muito é a audiência, alavancada pelas redes sociais, e o perfil do nosso público. Temos média de 600 mil usuários únicos por mês, sendo que boa parte é formada por universitários. Segundo o Ibope, 28% dos leitores do Catraca são pós-graduados e 64% são do sexo feminino. Lidamos com um público formador de opinião e que é de interesse dos anunciantes.
Com a premiação realizada pela Deustche Welle (eleito o melhor blog em língua portuguesa), o Catraca Livre ganhará mais espaço e credibilidade perante o público e patrocinadores?
Um prêmio desse sempre dá maior visibilidade o que também chama a atenção das empresas a desejarem ter suas respectivas marcas associadas a um veículo como o Catraca Livre. Como disse anteriormente, nosso público é composto, em sua maioria, por formadores de opinião, pessoas com currículo acadêmico. A premiação ajuda a impulsionar ainda mais, assim como as redes sociais. Atualmente, temos mais de 120 mil fãs no Facebook e 70 mil seguidores no Twitter e passamos a ter nosso conteúdo exibido nos ônibus e no metrô de São Paulo.
Você esperava que o Catraca Livre tivesse esse reconhecimento com apenas três anos no ar?
Não esperava. Ele surgiu para ser uma experiência de jornalismo cidadão, publicar temas que fortalecessem a relação dos bairros com o que a cidade tem de melhor e de mais interessante. Criamos o Catraca para ser o laboratório de comunicação. Não imaginava essa repercussão. Ele entrou no ar em julho de 2009 com o trabalho de estudantes que estavam nos últimos períodos de suas faculdades, inclusive teve a presença dos meus filhos Marcos e Gabriel. Não poderia imaginar que teriámos essa força e nunca pensei que receberíamos um prêmio.
Qual a melhor notícia que o Catraca Livre publicou?
Não dá para citar uma única matéria. Há momentos em que damos um destaque maior a assuntos específicos. Um exemplo disso é a época da Virada Cultural (evento produzido pela Prefeitura de São Paulo que promove shows e atividades culturais durante todo um fim de semana). Sempre trabalhamos muito nessa fase pré-evento, como agora, com a produção de pautas sobre o assunto. É o ponto alto do site. Fora os eventos como o da Virada Cultural, apostamos em personagens.
O Catraca Livre pode ser considerado um divisor de águas da sua carreira no jornalismo?
Passou a ser. Eu já estava me dedicando ao jornalismo voltado ao cidadão, mas o Catraca Livre fez esse trabalho ficar ainda mais focado. Devo muito ao jornalismo investigativo, que não é menos importante e por onde ganhei diversos prêmios. Porém, queria me dedicar a outra forma de encarar a comunicação e o Catraca me ajudou muito nesse objetivo.
Fonte: Portal Comunique-se – Anderson Scardoelli -
Greve e ameaça de morte
Ruy Sposati é um jovem jornalista paulistano. Largou a metrópole pra trás e, há um ano, embrenhou-se na Amazônia. Cumpre a solitária tarefa de cobrir o dia a dia da construção de uma das maiores obras no Brasil de Dilma: a usina de Belo Monte. Sposati, que vive em Altamira-PA, escreve para o movimento Xingu Vivo para Sempre e paga caro pelo trabalho que faz. Ano passado foi ameaçado de morte e nesta semana foi alvo de uma ação que poderíamos definir como censura judicial. A entrevista abaixo foi realizada via e-mail por Rodrigo Vianna e Juliana Sada para o blog O Escrevinhador. Sposati conta ainda como está a situação dos trabalhadores. Após uma semana de greve geral, os operários decidiram suspender a paralisação na última quinta (5).
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Ano passado você foi ameaçado de morte. Por quê? Quem ameaçou? Agora, as ameaças voltaram? O que está acontecendo?
Sim, fui ameaçado de morte por dois homens não identificados, enquanto cobria a demissão de, ao menos, 80 trabalhadores que haviam participado de uma greve uma semana antes, no final de 2011. Consegui fotografar a placa do veículo em que os homens estavam. Depois descobri, com a ajuda do povo do Twitter, que o carro era propriedade da Polícia Militar do Pará. Há uma reportagem no Terra Magazine que expõe bem o contexto em que as coisas aconteceram. Ameaça de morte eu só recebi essa. Quando cubro Belo Monte, sou sistematicamente perseguido (filmado, fotografado), ameaçado de expulsão ou expulso (por policiais, homens não identificados e/ou diretores do consórcio), recebo ameaças do tipo “vou te pegar”, sou xingado e questionado (“você não é jornalista”, “você acha que é esperto” é bem recorrente), seja onde estiver.
Empresas responsáveis pela obra teriam pedido na Justiça que você seja impedido de circular pela região. Isso é verdade? Parece uma demanda despropositada. Por que sua presença incomoda tanto? Há outros jornalistas na região?
Sim, é verdade. De fato, sou o único jornalista dedicado a cobrir Belo Monte. Eventualmente temos a presença de jornalistas nacionais e, especialmente, internacionais, mas as pautas deles são, via de regra, aquelas mais generalistas. Não há ninguém, a não ser eu, cobrindo o dia a dia das obras. Isto tem garantido, em alguns momentos, um contraponto interessante das informações oficiais no campo da imprensa – o que, sem dúvida, incomoda o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM).
É surreal. O pedido de liminar do Consórcio me acusa de ser a liderança dessas manifestações, e mistura meu nome a mais outros três – que são verdadeiras lideranças de movimentos, mas que relação nenhuma tiveram com a greve. É curioso o juiz ter dito que a inicial trazia provas irrefutáveis da minha culpabilidade – fotografias que me incriminariam. Na decisão, o juiz afirma que “a turbação encontra-se demonstrada através de fotos (…) juntadas nos autos” e que “com efeito, as fotos trazidas com a inicial revelam existência de ameaças à posse do requerente, que merece proteção”. Hoje fui consultar o processo, curioso sobre as fotos. Em todas elas, eu estou simplesmente empunhando uma câmera e registrando imagens, ou entrevistando os trabalhadores. Na minha leitura, esse interdito judicial está diretamente relacionado à necessidade que o Consórcio tem de censurar a cobertura jornalística que tenho feito sobre Belo Monte.
Em todos esses momentos em que sou seguido, acabo filmado e fotografado – e o processo judicial prova que as filmagens e fotografias são realizadas para tentar me incriminar. Os trabalhadores dizem que é assim também que eles identificam lideranças das greves. Eu mesmo já cobri, no total, cerca de 250 demissões por perseguição política.
Os operários estão ou não em greve? Há informações desencontradas…
Não, na quinta (dia 5), que seria o oitavo dia das paralisações, eles decidiram suspender a greve. Sob pressão do sindicato e do CCBM aceitaram “negociar trabalhando”, com medo de retaliação (leia-se: demissão coletiva, como ocorreu em novembro e em dezembro, fora as demissões avulsas). Dia 10 começará uma rodada de negociação com a empresa. Até dia 16, segundo a comissão da greve, se a empresa não cumprir toda a pauta reivindicatória, eles voltarão à greve.
Há uma parcela importante dos envolvidos na história dedicados a costurar uma narrativa própria para o que anda acontecendo: não, não há greve; ou já houve, mas não há mais; ou, não, não é uma greve, são um punhado de trabalhadores baderneiros; não, sequer são trabalhadores, e sim malucos que são contrários às usinas e estão ofendendo o direito do trabalhador de trabalhar, de obedecer à empresa. Isso não é forma de linguagem: está em discursos, panfletos públicos, declarações para jornalistas e documentos oficiais do sindicato, da Federação e do Consórcio. Tudo isso à sombra da maioria silenciosa – em termos midiáticos – dos trabalhadores, que não conseguem furar o bloqueio nem na cidade.
Você, que esta aí, consegue avaliar a cobertura que a chamada “grande mídia” faz da greve e da própria obra de Belo Monte?
De fato, tem havido um problema sistemático na cobertura da grande imprensa em relação a Belo Monte. O contexto desta e das outras greves deixa isto bem nítido. Por um lado, há esta dificuldade territorial – os correspondentes mais próximos ficam em Belém – há 848 km daqui ou, no mínimo, 120 reais pela passagem de ônibus, que leva um dia ou mais pra chegar; ou de 600 a 1200 reais por um trecho da passagem de avião. Por conta disto, ficam todos reféns das versões oficiais dos fatos – e, é claro que, em uma greve, a versão do patrão é sempre muito diferente da versão do trabalhador. Neste caso, há mais um entrave: uma divergência forte entre a base dos operários e o sindicato que os representa. No meio da greve, foi lançado um abaixo-assinado onde a categoria recusa a representatividade dessa organização, ligada à Força Sindical.
Por conta disso, surgiram as versões macarrônicas da boca do Consórcio Construtor, mas também do sindicato e, especialmente, do presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores da Construção Pesada (Fenatracop), que tem atribuído a “movimentos sociais contrários a Belo Monte” a responsabilidade das manifestações. Na esteira dessa acusação, surgiu o interdito proibitório em meu nome, e no nome de mais três pessoas, onde especificamente eu sou acusado de liderar invasões a ônibus, o bloqueio da Transamazônica e outras coisas.
Enfim, ocorrem greves e os jornais patinando, entre a preguiça, a linha editorial comedida e viciada e a apuração vacilante oficialesca por telefone. Ninguém quer falar diretamente com os trabalhadores.
Por que você decidiu largar a vida em São Paulo e mudar pra Altamira para acompanhar todo esse processo?
Já acompanhava a questão de Belo Monte há um tempo, embora nunca tivesse vindo a Altamira, ao Pará ou sequer à Amazônia. Nunca imaginei que viria parar aqui. Em São Paulo, me batia muito aquela sensação “Não existe amor em SP”, da canção do Criolo. Aí topei vir.
Quando cheguei, tinha uma vaga noção de qual seria meu papel – contudo, conforme o tempo passava e eu assimilava mais as coisas, descobri um mundo completamente diverso, ou melhor, descobri uma imposição muito forte de realizar um trabalho que tinha como premissa ser um jornalismo engajado. Nesse sentido, de um ano pra cá, meu papel de assessoria de imprensa tem se transmutado quase que por completo em papel de reportagem pura. É uma demanda muito forte em um lugar quase que absolutamente abandonado pelo Estado. Curiosamente, no dia 2 de abril, dia do interdito proibitório, completei 1 ano de mudança, de São Paulo para cá.
Tem medo de morrer? Há lideranças de movimentos sociais ameaçadas?
Não tenho medo de morrer. Acredito que as ameaças, no meu caso, em geral, venham mais para intimidar e coagir do que para propriamente eliminar a mim. Também confio que haja uma orientação expressa do governo para que se evite qualquer tipo de crise que tenha como consequência a morte de alguém. Contudo, o modus operandi das coisas no Pará, como se vê, é outro e me preocupa quando envolve a polícia e pessoas sem identificação… Agora, acho que isto é mais preocupante para as lideranças de movimentos sociais ameaçadas. A “regra” paraense se aplicaria mais a estes casos.
Contudo, eu, pessoalmente, acho que perseguição, censura, criminalização e difamação dos movimentos que combatem a construção da usina se dão, aqui, de maneiras muito mais sofisticadas – através de um intenso trabalho de assessorias de comunicação multimilionárias junto à imprensa, cooptação da imprensa local, workshops, depoimentos de ministros e secretários, flexibilização de leis, interditos proibitórios, processos judiciais – do que, propriamente, com violência.
Agora, é claro que, para quem está no front, como eu, são muito recorrentes perseguições e coações que sempre deixam claro que, se eu fosse adiante, eu seria espancado. Isso eu sinto o tempo todo. Na quarta-feira (dia 4 de abril), na greve, tirei fotografias de pelo menos 5 pessoas, entre policiais, funcionários da assessoria de imprensa FSB Comunicação (que presta serviços ao CCBM), homens não identificados e “camisas azuis” (uniforme das chefias do Consórcio) que me seguiam, me fotografavam e tentavam me intimidar ostensivamente. Um outro diretor do Consórcio tentou tomar minha câmera, tomando um pito até do policial, que negociava com ele e os grevistas. Tenho fotografias e vídeos de quase todas essas ocasiões. Acontece que, para a imprensa, de maneira geral, vale mais a nota oficial do Consórcio ou, quando interessa, do sindicato.
A população local, em geral, apoia a obra ou é contra (deve haver nuances, você poderia nos explicar isso)?
Eu responderia: a população não apoia a obra. Mas, acredito que a coisa não seja tão binária, ou ainda maniqueísta, como alguns tentam apontar (inclusive quem se posiciona contrário ao projeto). A consciência da população local me parece bastante complexa. Se pergunto a alguém, no final de uma entrevista: “você é contra ou a favor da barragem?”, a resposta mais comum que recebo é “nem contra nem a favor. Eu era contra, mas aí começou… Eu sou a favor porque agora tem bastante emprego, mas um monte é pra gente de fora. Mas é bom pro desenvolvimento do país, né? Por outro lado, sou contra porque vai destruir nosso rio, a floresta, vai alagar nossa cidade, aumenta o preço das coisas, aumenta a violência”. Esta é uma resposta artificial, mas, representa bem, para mim, toda a confusão da opinião das pessoas. Agora, é infinitamente mais fácil encontrar uma fonte que desça o sarrafo na usina, do que uma que defenda. Quem defende de verdade são os latifundiários, empresários, grandes comerciantes, empreiteiros e afins.
As populações locais tem pouca dimensão do debate que Belo Monte representa para o mundo. E não sabem, por exemplo, que Belo Monte está longe de ser um fato consumado, já que a maior parte do empréstimo do BNDES, de mais de 20 bilhões de reais, ainda não foi liberada, e que há outras experiências de obras semelhantes, em contextos muito semelhantes – depois de já terem ocorrido desapropriações e indenizações -, como no caso da hidrelétrica chinesa em Burma, no rio Irrawaddy, em setembro de 2011.
Também é interessante analisar que, quando este projeto se torna um projeto do governo federal, da gestão do Partido dos Trabalhadores, as organizações ligadas a este campo político também passam a tomar uma postura diferenciada, o que refreou em grandes proporções a resistência organizada de movimentos e parlamentares que tradicionalmente lutaram contra a barragem.
Qual sua opinião pessoal sobre a obra de Belo Monte?
Sou absolutamente contrário à construção da usina. E devo dizer, por óbvio, que esta não é a última no rio Xingu. O que reforça ainda mais minha posição. São Paulo e os chineses que se reinventem; isto aqui não é um quintal de alcateias.
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Xingu Vivo denuncia manipulações em Belo Monte
Esta e outra notícia em destaque na página são mais informações sobre o processo destruidor que ocorre na construção da hidrelétrica de Belo Monte. Na imprensa, o nome Belo Monte nem é citado quando apresentam informações da greve, com adesão de milhares de empregados. Um operador de motosserra morreu, mas eles informam rapidamente que é de uma empresa terceirizada – como se isso diminuísse o impacto.
O Sindicato ouvido pela mídia sobre a greve recebe percentual por trabalhador empregado e já costura um acordo para o retorno, sem melhoria das garantias de trabalho. Mas os trabalhadores já deram uma nova data (dia 16) para retornar à greve caso suas reivindicações não sejam atendidas. Não bastasse o impacto ambiental, a construção da hidrelétrica é afundada também na exploração do trabalho, em benefício do Consórcio contratado.
A notícia abaixo foi publicada na Agência de Informação Frei Tito para a América Latina (Adital) e traz uma nova face desse processo:
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Uma greve geral realizada nos dias 29, 30 e 31 de março por trabalhadores da hidrelétrica de Belo Monte, que está sendo construída no Rio Xingu, no estado brasileiro do Pará, foi o cenário e a ocasião para o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) criar uma denúncia falsa contra os ativistas do Movimento Xingu Vivo para Sempre (MXVPS), que luta contra a construção da hidrelétrica na região.
Representantes do CCBM denunciaram que Antonia Melo, coordenadora do MXVPS, Ruy Sposati, jornalista da organização, e mais duas pessoas ligadas ao Movimento teriam realizado um bloqueio na BR 230 fazendo uma “espécie de parede humana”. Os quatro manifestantes também foram acusados de invadir ônibus do Consórcio e gerar distúrbios como bater nos vidros e laterais dos ônibus e obrigar os motoristas a abandonarem o veículo gritando “palavras intimidatórias”. Apenas eles teriam sido responsáveis por fechar a Transamazônica e impedir a passagem de veículos.
Após receber a denúncia e sequer analisar sua veracidade – segundo assegura nota do MXVPS – o juiz estadual da comarca de Altamira, Wander Luís Bernardo, deferiu parcialmente na segunda-feira (2) uma ação do Consórcio contra o Xingu Vivo Para Sempre, Antonia, Ruy e os outros dois envolvidos. Wander Luís emitiu um mandado proibitório, em caráter liminar, determinando multa de até 100 mil reais caso os acusados voltassem a cometer “qualquer moléstia à posse” do CCBM, ao exercício das atividades dos trabalhadores ou impedissem seu acesso aos canteiros.
“O disparate desta decisão está no fato de que o juiz se deu o direito de, pressupondo algum tipo de intenção imaginária por parte do Xingu Vivo de cometer alguma ‘moléstia’, criminalizar o movimento ao lhe impor um interdito proibitório. Gravíssima, no entanto, é a série de mentiras mirabolantes inventadas pelo CCBM para justificar o pedido de citação do movimento e seus membros”, critica nota do Movimento.
Para comprovar a acusação, o Consórcio Construtor Belo Monte uniu à denúncia fotos que supostamente mostravam o “ambiente criado” após os diversos atos ilícitos praticados contra a segurança dos trabalhadores e moradores de Altamira, cidade próxima ao canteiro de obras. As fotos mostram até mesmo o jornalista Ruy Sposati à frente das invasões aos ônibus e do bloqueio da BR 230.
A presença do jornalista realmente foi confirmada durante as manifestações de 29, 30 e 31 de março. Ruy compareceu ao canteiro de obras apenas para cobrir a greve geral dos trabalhadores do Consórcio. Antonia Melo estava com membros de organização estrangeira, um dos acusados estava em Belém-PA e o outro não esteve em nenhum momento na manifestação promovida pelos trabalhadores.
Diante dos fatos, o Movimento denuncia a acusação mentirosa feita ao judiciário a fim de impedir o direito de ir e vir, de estar em vias públicas e de se manifestar livremente; denuncia a tentativa do Consórcio de criminalizar lideranças sociais, sobretudo o jornalista do Xingu Vivo, com o fim de barrar o direito de liberdade de expressão; e denuncia e lamenta a emissão, por parte da justiça, de uma liminar sem fundamentos comprovados. O Movimento exige a imediata suspensão do interdito proibitório “para que o Estado Democrático de Direito seja minimamente respeitado, e para que a Justiça não seja exposta a uma incômoda situação vexatória”.
GREVE GERAL
A manifestação registrada de 29 a 31 de março foi organizada por trabalhadores da hidrelétrica de Belo Monte. A ação foi desencadeada por uma série de problemas que afetam cerca de cinco mil homens que atuam no canteiro de obras. Além da morte de Francisco Orlando Lopes, a greve geral teve como motivos pedidos de aumento salarial, redução dos intervalos de visitas às famílias de seis para três meses, melhor abastecimento de comida e água e melhores condições de trabalho.
Fonte: Natasha Pitts, da Adital -
Acesso igualitário à agua
O aumento da demanda por comida, a rápida urbanização e as mudanças climáticas ameaçam o abastecimento de água no mundo. Essa conclusão faz parte do novo relatório da ONU intitulado “Administrando Água sob Risco e Incerteza”, divulgado na segunda-feira (dia 12/3), no Fórum Mundial sobre Água, em Marselha (França).
O documento estima que haverá até 2050 um aumento de 19% no uso de água na agricultura, que já consome 70% da água doce no mundo. Além disso, por conta do crescimento da demanda de água, países estão explorando suas reservas subterrâneas e as mudanças climáticas estão alterando os padrões de chuva, a umidade do solo e causam secas e tempestades. A estimativa é que em 2070, 44 milhões de pessoas serão afetadas pelas consequências das mudanças climáticas.
“Ao menos que a água tenha uma importância central no planejamento do desenvolvimento, bilhões de pessoas, em sua maioria nos países em desenvolvimento, podem enfrentar uma redução de meios de subsistência e oportunidades de vida. Uma melhor governança da água é necessária, incluindo investimento em infraestrutura do setor público e privado”, alerta o comunicado da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
De acordo com o relatório, a infraestrutura de saneamento não acompanha o ritmo da população urbana, pois mais de 80% da água usada não é recolhida ou tratada e um bilhão de pessoas ainda não tem acesso à água limpa. “Temos muito a fazer antes que todas as pessoas tenham acesso a água e saneamento necessários para levar uma vida de dignidade e bem-estar”, observou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
PARTICIPAÇÃO
A comissão brasileira no Fórum, chefiada pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, apresentou as soluções de gestão hídrica implantadas no país nos últimos anos. Embora seja detentor de 12% das águas superficiais do mundo, a distribuição naturalmente desigualitária do recurso natural torna o Brasil um dos referenciais sobre a questão.
O programa de pagamento por serviços ambientais, o Prodes (de despoluição de bacias hidrográficas por meio do financiamento do tratamento do esgoto) e o Atlas Brasil de Abastecimento Urbano de Água (como solução de monitoramento da eficiência no abastecimento), serão algumas das ferramentas brasileiras que podem ser adotadas em outros países.
A Agência Nacional de Águas (ANA) ainda apresentou outras propostas como a da criação de um órgão que promova a Governança Global da Água e a consolidação da garantia do acesso à água potável e instalações sanitárias como um direito humano. Na agenda brasileira ainda consta a construção de reservatórios para aumentar as reservas de água doce. Mais de 40 instituições públicas e privadas do Brasil estiveram presentes.
Fonte: EcoDesenvolvimento.org | Portal EcoD.
