crise econômica: diabéisso?

Por mais que já tenha ouvido de algumas pessoas bem informadas que o pior da crise econômica já passou, espero mais história no enredo. Para mim, faltam pedaços nesse imbróglio e tenho impressão que não é culpa da minha ignorância em política econômica.

Entre análises à esquerda (anunciadores da última crise do capitalismo) e à direita (minimizadores da crise sistêmica do sistema), tento encontrar rastros para poder entender mais um pouco e não me deixar levar pelas opiniões sorridentes dos comentaristas do Manhattan Connection.

Nessa de juntar os pedaços, é que colei uma declaração veiculada na imprensa nacional e internacional do titular do Banco da Espanha – o banco central espanhol -, Miguel Angel Fernández Ordoñez. A incerteza sobre a economia mundial, na sua avaliação, é total e uma depressão maior é possível. Tudo isso porque a economia, no prisma dos capitalistas, gira em torno de consumo, emprego, investimentos e créditos, em uma cadeia de eventos interligados. Sem créditos, cessam os investimentos, somem os novos empregos e cai o consumo.

Nas palavras de Ordoñez, a desconfiança é total. O mercado interbancário não funciona e se geram círculos viciosos: os consumidores não consomem, os empresários não contratam, os investidores não investem e os bancos não emprestam. Há uma paralisação quase total, do qual nada escapa. Todo mundo teme que o capitalismo afunde junto com suas economias. Daí o governo aparece para dizer: soltem esse dinheiro! Consumam! Mas com esse clima de vacas magras, quem é que vai tocar fogo nas suas economias correndo o risco de receber as contas do emprego mais na frente?

Lá fora, o desemprego massivo tem dado vez a um debate sobre o retorno de milhões de imigrantes latino-americanas(os) dos Estados Unidos e da União Européia para seus países de origem. De acordo com um relatório da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), apresentado no México no dia 27/out passado, regressaram ao México cerca de 3 milhões de migrantes devido à falta de trabalho nos Estados Unidos.

Mês passado, os Estados Unidos alcançaram o índice máximo de desemprego nos últimos 14 anos, o que levou o presidente eleito Barack Obama a divulgar que havia ordenado a seus assessores econômicos que estudem um plano de recuperação econômica que gere 2 milhões e 500 mil novos postos de trabalho durante os próximos dois anos.

A Espanha, maior receptor de imigrantes latino-americanas(os), registrou o pior índice de desemprego em 12 anos, ao ter aproximadamente 3 milhões de pessoas desempregadas em novembro. O governo faz um prognóstico que a situação vai piorar em 2009.

São efeitos. As causas dessa desconfiança não foram uma lufada de mau presságio. Alguma coisa provocou isso, claro! Na minha ignorãncia, acho que tem a ver com uma lógica simples, que apontava especuladores lucrando 15% em cima de taxas de crescimento de no máximo 7%. Mas isso é óbvio demais, o problema deve ir além, mais fundo. Tão fundo que talvez a gente nunca chegue a descobrir quem levou o queijo.

.:. Ilustração: Banksy [ http://www.banksy.co.uk ]

MUITO IMPORTANTE
Crescer os olhos
O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, disse à BBC que mais gastos serão necessários para estimular o crescimento econômico global. Para ele, governos precisam gastar mais no combate à crise e um pacote de US$ 1,2 trilhão é necessário. Strauss-Kahn alertou que a próxima projeção de crescimento econômico global para 2009, a ser divulgada pelo Fundo em janeiro, deve ser ainda pior que a anterior.
.: DEU NO ESTADÃO | 22/12/2008